sexta-feira, 13 de março de 2020

"ESTRADAS ASSOMBRADAS". CASO REAL DE ASSOMBRAÇÕES E AUTOMÓVEIS.


“Certos espíritos podem ser atraídos por coisas materiais; podem sê-lo por certos lugares, que podem escolher como domicílio até que cessem as razões que o levaram a isto.”
                                                                                  Allan Kardek


Numa noite de sábado em 1995, o casal de amigos Estevão e Vera (nomes fictícios) seguia rumo á uma exposição agropecuária na cidade de Mar de Espanha (MG), num Chevrolet Caravan. Fazia muito frio com nevoeiro e chuviscava. Vera guiava com cuidado e iam conversando amenidades quando Estevão brincou: - E se entrasse uma mulher na frente do carro agora, o que você faria? – eles riram e repentinamente um vulto branco saiu da mata ao largo da estrada e se colocou no meio da via obrigando Vera a pisar no freio com toda força para não atropelar a estranha mulher de vestido branco, molhada de chuva e com cabelos longos até a cintura. Os dois se assustaram e ficaram ainda mais quando a mulher aproximou da frente do carro e começou a socar o capô com força, gritando palavras incompreensíveis. Estevão falou á Vera que engatasse a marcha ré para saírem dali, mas apavorada ela deixou o carro morrer. Então a mulher andou até a porta do motorista e começou a socar o vidro com força enquanto gritava: - Me deixa entrar, me deixa entrar! - mas eles não conseguiam ver sua face porque o vidro estava embaçado. Ela gritava e sacudia o carro, mas mesmo em pânico Vera conseguiu ligar o motor e saíram em disparada pela estrada deixando a estranha figura para trás.

Numa madrugada de junho, em 1976, um português de nome Vilarinho acompanhado de sua esposa acabava de iniciar a subida da serra depois de Duque de Caxias (RJ) rumo á cidade de Juiz de Fora (MG) num Volkswagen Variant. Naquela época ainda não havia a BR-040 e a antiga Estrada União Indústria era de mão dupla obrigando-os a seguirem em baixa velocidade, ainda mais com nevoeiro. A viagem correu tranquila até que de repente surgiu um carro preto adiante no meio da névoa. Vilarinho estranhou porque ele parecia ter acessado a rodovia pela encosta á esquerda, coberta de mato, mas sua esposa afirmou que devia haver alguma estradinha que passou despercebida. Ele deu de ombros e continuou a viagem olhando o que lhe pareceu ser um velho carro americano, tão sujo que não era possível ler a placa e aparentemente tinha apenas o motorista. Aquilo lhe deu um pouco de aflição, então decidiu ultrapassá-lo, mas quando acelerou, ele acelerou também quase desparecendo no nevoeiro. Vilarinho desistiu, pois não achava seguro correr naquelas condições; mas logo o carro preto diminuiu a marcha, tornando a se aproximar. O português tentou ultrapassá-lo mais duas vezes e acontecia a mesma coisa, até que um ônibus surgiu por trás, buzinando e com seta piscando à esquerda indicando ultrapassagem. Ele manteve-se á direita para que o ônibus o ultrapassasse e certamente ao carro preto também. O ônibus ultrapassou e buscou a pista da direita de modo tão abrupto que fatalmente abalroaria o carro logo á frente. Assustado Vilarinho diminuiu a marcha ante a eminência do acidente, só que não aconteceu nada e as lanternas traseiras do ônibus da viação Util sumiram nas curvas da estrada.
- Não bateu, como assim? – se perguntaram, pois não viram qualquer indício de acidente ao largo da pista. Mais adiante havia um restaurante chamado Piabanha onde os coletivos da viação Util faziam parada. Os portugueses pararam e reconheceram o ônibus da ultrapassagem; então se aproximaram do motorista perguntando sobre o veículo que seguia adiante da sua Variant.
– Não havia nenhum carro preto á frente, a estrada estava livre! – foi sua resposta.

Em 18 de setembro de 1960 cinco pessoas faziam uma viagem noturna, numa Rural Willys, de Luisiânia (GO) rumo á Brasília; a então recém-inaugurada Capital Federal brasileira. Até a meia noite tudo transcorreu normalmente quando o marcador de temperatura do motor demonstrou aquecimento. O motorista parou e junto com um dos passageiros foi verificar o que ocorreu, já imaginando o rompimento da correia do ventilador do radiador; porém, ela estava intacta e não conseguiram descobrir a razão daquele súbito aquecimento. Já iam entrando de volta no carro quando o passageiro foi atingido por uma pedra na testa, ferindo-o, seguida de uma saraivada de pequenos pedregulhos que vinham dos arbustos marginais á rodovia. Uma passageira que estava á janela quase foi atingida por uma pedra, que, estranhamente, pousou mansamente sobre suas pernas. O motorista olhou em torno e pareceu-lhe ter visto vultos escondidos atrás dos arbustos enquanto outro passageiro sacava uma arma de fogo desferindo disparos para espantar o que imaginou serem bandidos tentando um assalto, mas o apedrejamento continuou, obrigando-os a entrar no carro e saírem rápido.
Havia um posto policial adiante e decidiram informar ás autoridades sobre o incidente. Um soldado armado pediu que o levassem ao local do apedrejamento e em pouco tempo chegaram ao lugar. Contudo, mal saíram da Rural para serem novamente alvejados com uma chuva de pedras e o motorista manobrou para que os faróis iluminassem os arbustos de onde vinham as pedras enquanto o soldado saia pelo mato com lanterna e arma nas mãos, mas não encontraram ninguém escondido. No posto policial foi feita a ocorrência e decidiram seguir viagem á Brasília.
Mas após alguns minutos na estrada, recomeçou o apedrejamento e a porta do carona começou a se abrir. Conseguiram fechá-la, mas foi só largar a maçaneta para a porta se abrir novamente sendo preciso segurá-la com toda força para mantê-la fechada. Então iniciou um chuvisco de areia sobre a cabeça dos ocupantes que parecia vir do teto do carro ao mesmo tempo em que lhes pareceu ver um vulto correndo ao lado do carro, á mesma velocidade, e isto seria impossível! Apavorado, o motorista acelerou mais ainda o carro com os passageiros cobrindo os olhos para não serem feridos pela areia.
Ao chegarem á Brasília, ás duas horas da madrugada e exaustos, seguiram ao hotel sem relatarem o acontecido a ninguém. Na manhã seguinte o motorista foi examinar a Rural imaginando que as pedradas deviam ter arranhado a pintura e devia haver areia no interior. Mas não havia um arranhão e não tinha um grão de areia sequer nos bancos ou no assoalho do carro, e nem nas suas roupas. As únicas provas do episódio era o corte na testa do passageiro e um arranhão no braço do que segurou a porta, evitando que se abrisse.  

Estas três narrativas poderiam compor um imaginário que poderíamos definir como “estradas assombradas”. No folclore brasileiro há inúmeras lendas de assombrações que vagam pelas estradas assustando viajantes, como o “Pilão de Fogo” ou “Mão de Pilão”: um demônio com o corpo em labaredas que persegue e queima quem cruza seu caminho; o “Galo Depenado”: um enorme galo totalmente sem penas que se apodera dos pertences dos viajantes depois de matá-los a bicadas e esporadas. O “Maty-Taperê” ou “Matita-Pereira”: um índio que vive nas aldeias abandonadas e se transforma numa enorme ave que com seu guincho faz os viajantes se perderam nos caminhos; o “Cavalo das Almas”: um cavalo preto que aparece nas estradas ás noites para recolher os mortos recentes, levando suas almas à garupa para o inferno; e ainda a “Porca-dos-Sete-Leitões” que dizem ter sido uma bela mulher que tinha sete filhos, que, muito arrogante, teria expulsado um feiticeiro de suas terras. Por vingança ele a transformou numa porca e seus filhos em leitõezinhos que soltam fogo pelos olhos narizes e bocas, que vagam pelas estradas assustando viajantes com seus urros nas encruzilhadas (percebem-se semelhanças com o mito de Niobe da tradição Greco-romana).
Há também uma larga gama de histórias de assombrações em forma de mulheres de branco que vagam pelas estradas e rodovias, sempre ás noites. Nos canais do YouTube existem inúmeros vídeos com aparições de fantasmas de mulheres vestidas de branco que surgem vagando errantes no meio da pista ou no acostamento sem nenhuma razão para estarem ali á aquela hora, apavorando os motoristas (mas a maioria são vídeos de autenticidade duvidosa). Entre motoristas de caminhão existiria uma variação em que a mulher pode aparecer vestida de noiva e pede carona em estradas e postos de gasolina, sempre á noite. Quando o motorista para, não há ninguém, ou quando a “assombração” aceita e entra na boleia, transforma-se num demônio com cabeça de caveira e mata o motorista. Em algumas estradas norte-americanas haveria lendas de uma loira nua que surge nas madrugadas guiando um conversível branco, e ao ultrapassar um carro ou caminhão, enfeitiça o motorista que passa á persegui-la até chegar á uma curva fechada, quando ela desaparece e o motorista despenca no abismo. Dizem que é o fantasma de uma jovem estuprada e assassinada. São variações do mesmo mito em regiões e países distintos.
A parapsicóloga Elsie Dubugras (São Paulo, 1904 – 2006) afirmou que histórias de assombrações, aparições, barulhos e outros fenômenos merecem estudo especial, pois se realmente ocorreram, é preciso descobrir por que e como foram provocados e pode haver uma explicação normal. A mulher que saiu da mata e assustou os dois jovens na Caravan, poderia perfeitamente ser uma pessoa pedindo ajuda, portadora de alguma perturbação psicológica ou mesmo alcoolizada. O carro preto que surgiu na estrada adiante do casal Vilarinho, poderia realmente ter acessado a via por uma estrada vicinal, e ter acelerado rápido antes que o motorista do ônibus pudesse vê-lo e entrado em outro acesso ao longo da via. No caso da Rural que apresentou súbito aquecimento de motor sem explicação, há um detalhe técnico nos motores “Hurricane” que equipavam veículos da marca Willys Overland: eles funcionavam á temperaturas mais elevadas que o convencional e isto poderia ser confundido com alguma anomalia. E quanto aos pedregulhos, devemos lembrar que a estrada que levava á Brasília em 1960, embora fosse asfaltada, poderia ter cascalho solto sobre o pavimento que arremessado ás caixas das rodas da Rural produziriam barulho. Mas a areia no interior do veículo (aporte) e a porta se abrindo não encontrariam explicações naturais. 
O parapsicólogo holandês George Zarab considerava que tanto em casos de assombrações como nos de poltergeist, era imprescindível a presença de pessoas, ou médiuns, que forneceriam a energia necessária ao acontecimento de fenômenos paranormais, ou sobrenaturais. No primeiro caso, o fato de Estevão ter dito “e se entrasse uma mulher na frente do carro agora, o que você faria?”, poderia ter funcionado como uma espécie de gatilho para a manifestação de energias á presença de um médium, que poderia ser tanto Estevão como Vera, que se materializariam na figura de uma mulher na escuridão da noite na estrada, mas não como um espírito, mas um estereótipo cultural engastado no imaginário coletivo do “fantasma da mulher de branco”, poderoso a ponto de produzir sensações audíveis e sensoriais de batidas na lataria do carro.  No caso do automóvel preto que apareceu na Estrada União Indústria, quase do nada, haveria uma hipótese defendida por parapsicólogos, de que certas cenas poderiam estar tão telepaticamente carregadas, que um sensitivo (médium) ao penetrar no ambiente onde o fato ocorreu, inconscientemente, reanimaria a cena como uma espécie de holografia. Por isto o casal Vilarinho poderia ter visto a imagem de algo acontecido anos atrás, (um carro seguindo pela estrada) que, ao seu turno, não foi captada pelo motorista do ônibus da viação Util. Seriam ambos, Vilarinho e a esposa, médiuns?
Ainda sobre o caso da Rural Willys seguindo rumo a Brasília, cumpre citar o pesquisador Roger Laffororest (Paris, 1905 – 1998) quando fala de fenômenos poltergeist, aportes e movimentações de objetos sem intervenção física, como frequências vibratórias atuando em vórtices de energia, ou caixas de ressonâncias de energias telúricas, que em tese, cortariam a terra á semelhança dos paralelos e meridianos. É dito que o Planalto Central do Brasil é repleto de energias capazes de criar esses vórtices, que poderiam se manifestar como poltergeist na presença de agentes, ou médiuns, que produziriam os fenômenos de deslocamento de objetos, como apedrejamentos e aportes. Quanto aos vultos nos arbustos e correndo ao lado da Rural em velocidade, poderia ser uma projeção criada como explicação para aqueles fenômenos. O cineasta e ator brasileiro José Mojica Marins (São Paulo, 1936 - 2020), o famoso Zé do Caixão, que também é pesquisador de fenômenos parapsicológicos afirmou que haveria uma necessidade de crer no sobrenatural como explicação para aquilo que não se explica naturalmente, daí a visualização de vultos como fantasmas. Se poderia ainda perguntar: quantos seriam os médiuns entre os passageiros da Rural? Portanto, citando novamente Elsie Dubugras, as respostas para fatos paranormais não são tão simples, agradáveis ou fáceis de aceitar. Assim, não estaria descartada a hipótese de realmente serem intervenções de espíritos de desencarnados, ou almas penadas, que também se manifestariam á presença de médiuns!   

FIM


Referências bibliográficas:
ACUIO, Carlos, O Folclore dos Nossos fantasmas, revista Quatro Rodas, São Paulo, Editora Abril, numero 147, p. 98 – 105,  outubro de 1972.
DO RIO e de São Paulo até Brasília, revista Quatro Rodas, São Paulo, Editora Abril, numero 02, p. 73, setembro de 1960.
DUBUGRAS, Elsie, As Casas Assombradas, Fronteiras do desconhecido, Revista Planeta, São Paulo, Grupo de Comunicação Três Ltda., numero 147/-A, p. 16 – 21,  dezembro de 1984.
DUBUGRAS, Elsie, Chuva de pedras (verdadeiras) em Goiás, Fronteiras do desconhecido, Revista Planeta, São Paulo, Grupo de Comunicação Três Ltda., numero 147/-A, p. 44 - 45,  dezembro de 1984.
DUBUGRAS, Elsie, Os Fantasmas de Borley House, Fronteiras do desconhecido, Revista Planeta, São Paulo, Grupo de Comunicação Três Ltda., numero 145/-A, p. 05 – 09,  dezembro de 1984.
DUBUGRAS, Elsie, Toques e sons Paranormais, Fronteiras do desconhecido, Revista Planeta, São Paulo, Grupo de Comunicação Três Ltda., numero 145/-A, p. 11 – 15,  dezembro de 1984.
LAFFOREST, Roger, Casas que Matam, citado por: MACHADO, Adilson, PIRES, Iracema, Paredes com Memória, Maldições antigas e Radiações Telúricas, Revista Planeta, São Paulo, Grupo de Comunicação Três Ltda., numero 77, p. 28 – 33,  fevereiro de 1979.
MARINS, José Mojica, citado por ACUIO, Carlos, O Folclore dos Nossos fantasmas, revista Quatro Rodas, São Paulo, Editora Abril, numero 147, p. 105, outubro de 1972.

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