quinta-feira, 2 de abril de 2020

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AO ENTRAR NESSES LUGARES ONDE A HISTÓRIA PARECE SUSPENSA, SE DEIXE LEVAR PELAS SUAS NARRATIVAS ANÔNIMAS.


O PASSAGEIRO FANTASMA (CASO REAL).


"CEMITÉRIO s. m. (Do grego: koimeterion, pelo latim: coemeterium.) Lugar onde se enterram os mortos." (1). Mas será que eles só ficam por lá? 


Em agosto de 1950, na cidade de Dores do Indaiá (MG) um homem de nome Arnaldo possuía uma fazenda na zona rural e costumava fazer o percurso ida e vinda da cidade numa motocicleta.
Uma noite acabou demorando-se nos afazeres da fazenda até á meia noite; era inverno e fazia frio, mas apesar do avançado das horas Arnaldo colocou seu capacete e agasalho decidido a voltar á cidade.
A estrada passava diante do portão do cemitério e depois seguia por uma longa subida, assim era preciso acelerar a motocicleta para ganhar velocidade. Então subitamente ao galgar a ladeira ele sentiu alguma coisa fria enlaçando sua barriga no mesmo instante que ocorreu um súbito peso na garupa, como se alguém tivesse montado fazendo a velocidade cair de 50 para 35, quilômetros. Junto ao peso extra e a sensação de que alguém o abraçava, ele sentiu um hálito gelado na nuca como se fosse uma respiração, e Isto o apavorou á tal ponto que sequer teve coragem de olhar para trás, acelerando mais a motocicleta para vencer a subida o mais rápido possível. Ao chegar ao alto, seu “passageiro” abandonou a garupa tão rápido que, como o acelerador estava no máximo, a motocicleta lhe escapou por entre as pernas derrubando-o, indo depois tombar na valeta. Arnaldo desmaiou e ao voltar a si correu á motocicleta que mesmo avariada funcionou e ele pode seguir.
Apesar do susto, ele passou por aquele local diversas vezes no decorrer dos anos á meia noite, porém nada mais aconteceu.

Cemitérios talvez sejam os locais mais propícios á histórias de aparições e fantasmas que poderiam existir, porque encerram o derradeiro mistério da existência, a morte e a inquietante questão: “o que haverá depois?”. Nas religiões afro-brasileiras os cemitérios são chamados de “casas da verdade” por ser um destino sem escapatória enquanto que alguns defendem a cremação dos cadáveres como alternativa aos sepultamentos. Sem dúvida são lugares que agregam repúdio e fascínio.
Portanto, cumpre fazer uma análise do caso:
A narrativa do carona fantasma na motocicleta requer considerações sobre seu roteiro. Arnaldo teria ficado até meia noite cuidando de afazeres na sua fazenda que independente da sua natureza, devia deixá-lo cansado e talvez sem condições ideais para pilotar uma motocicleta á noite (não sabemos a distância entre sua fazenda e a cidade). Ao galgar uma ladeira o motor do veículo poderia perder potência e velocidade causando repuxo para trás e dando a sensação de que alguém teria montado na sua garupa. Fazia frio, e as sensações frígidas de toques e sopros poderiam ser correntes de ar circundando-o ao vento. E ao passar pelo cemitério da cidade á meia noite com as sensações citadas, o imaginário se encarregaria de criar o passageiro fantasma. Aliás, a expectativa de se ver um fantasma é apontada como a causa de aparições e até sensações físicas, como toques.
Contudo, á luz da parapsicologia e da espiritualidade o episódio pode trazer á presença do sobrenatural. Usando-se a classificação das aparições proposto pela jornalista e parapsicóloga Elsie Dubugras (São Paulo, 1904 – 2006) seria possível dividir os casos em quatro categorias: efeitos auditivos; efeitos visuais; efeitos sensoriais e fenômenos objetivos e subjetivos. O caso da motocicleta, quando Arnaldo se sentiu tocado fisicamente, além do peso extra na garupa seriam efeitos sensoriais, objetivos e subjetivos que se manifestaram á presença de um médium. Reportando Alan Kardek (Lyon, 1804 – Paris, 1869) que os definiu como pessoas dotadas de faculdades especiais capazes de materializar fenômenos sobrenaturais, o motociclista Arnaldo poderia ser um médium que ao passar pelo cemitério, compreendido como local propício á formação de “caixas de ressonâncias”, impregnado de energias desprendidas por sentimentos de perda e sofrimento, pôde materializar um corpo subindo á garupa, abraçando-o, e em seguida desaparecendo assim que ele saiu da área de abrangência destas energias.
O pesquisador Roger Laffororest (Paris, 1905 – 1998) afirmava que o próprio homem poderia produzir vórtices de energia, e que tais fenômenos seriam a manifestação disto, influenciando o ambiente; e lembrando que espíritas acreditam que almas penadas poderiam interagir com médiuns, enquanto que os espiritualistas não creem na ação direta de espíritos dos mortos e sim numa espécie de ação residual das suas vidas, mas sem espírito. Então poderíamos supor que realmente ocorreu a materialização de um fenômeno sobrenatural na forma de um passageiro fantasma.

FIM.

Referências bibliográficas:

KARDEK, Allan, Revista Espírita, p. 105 – 112, 1864; citado por DUBUGRAS, Elsie, As Casas Assombradas, Fronteiras do desconhecido, Revista Planeta, São Paulo, Grupo de Comunicação Três Ltda., numero 147/-A, p. 21,  dezembro de 1984.
DUBUGRAS, Elsie, Toques e sons Paranormais, Fronteiras do desconhecido, Revista Planeta, São Paulo, Grupo de Comunicação Três Ltda., numero 145/-A, p. 11 – 15, dezembro de 1984.
LAFFOROREST, Roger, Casas que Matam, citado por: MACHADO, Adilson, PIRES, Iracema, Paredes com Memória, Maldições antigas e Radiações Telúricas, Revista Planeta, São Paulo, Grupo de Comunicação Três Ltda., numero 77, p. 28 – 33,  fevereiro de 1979.
O passageiro não identificado. Casos malditos, Revista Planeta, São Paulo, Grupo de Comunicação Três Ltda., numero 15, p. 6,  novembro de 1976.

1– (cf) Cemitério: Grande Enciclopédia Larrousse Cultural, São Paulo, Nova Cultural Ltda, 1998, volume 06, p. 1285.